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quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Será mesmo que o Rap é compromisso, não é viagem? Sim. Mas antes disso tudo é união por um ideal.



Participantes da Batalha do HC 
Arquivo: Batalha do HC

O Hip Hop é além de um gênero musical, é um estilo de vida, uma cultura que nasceu nos anos 70 em New York no Bronx, foi criado pelo Africa Boombata por meio da Zulu Nation que defendia a ideia de auto-afirmação e de combate à violência por meio dos quatro elementos do Hip Hop: o DJ, o MC o Grafitte e o B-Boy/B-Girl. A área do Bronx era carente de políticas públicas eficientes e continuadas e a filosofia que Boombata pregava defendia que os jovens deixassem de lutar com armas e começassem a disputar territórios e honra por meio da criatividade e pelo poder da argumentação.
O Hip Hop veio para o Brasil em 1986 e tomou avenidas, galerias e estações de metrô com as tendências vindas de New York, e a juventude negra encontrou um veículo-fonte de autoestima e auto-organização polícia e artística por meio dessa cultura. Um dos grandes nomes brasileiros é o Nelson Triunfo- dá uma pesquisada, é sempre bom beber na fonte da velha escola!
Outrossim, Timon, uma cidade pacata do Estado do Maranhão também tem seu legado em construção por meio da cultura Hip Hop. Por se localizar bem próximo a capital do Piauí, Teresina, sofre grandes influências do movimento piauiense,  mas não deixa de construir com sua identidade várias manifestações artísticas. Entrevistei o @lew_fernandes, um dos grandes nomes de Timon/Teresina, e o mesmo me constatou que a primeira Crew de Break de Timon era chamada de "B-Boys suspeitos", vencedora de uma Batalha de Breaking em Teresina por volta de 2004, foi formada pela entidade de Hip Hop VTP(Visão periférica de Timon). Em 2007, o VTP fez o projeto de montar a primeira sede de Hip Hop de Timon, instalada no Conjunto Boa Vista, onde era realizada diversas atividades relacionadas à  filosofia de vida que o Hip Hop pode oferecer.
Com essas mesmas palavras, Lew Fernandes também relatou que em 2008 se formou a segunda Crew de Breaking, chamada Ivasores, na qual alguns integrantes eram grafiteiros.Logo em seguida, surgiu uma rivalidade de Breaking entre os Ivasores e os Suspeitos. Em 2009, outras Crews se formaram na cidade como:  Digimon, Flex crew, Crazy for style, Teletubies, Black Mouse e Sharingan.
Em 2010, se formou o A.B.k (ALL-Broken ),  a Crew que mais se destacou na cidade ganhando várias batalhas municipais, estaduais, nacionais e eliminatórias internacionais como Redbull BC One e Freestyle Session! Em 2013,surge a primeira Crew de graffiti timonense,  a Spray Copatas, que vem ganhando cada vez mais espaço  no Maranhão e no Piauí !
 Lew Fernandez: membro de um dos primeiros grupos de Breaking de Timon/MA
Arquivo: Lew Fernandez

De acordo com um dos primeiros organizadores da batalha de rap de Timon,  o Thiago de Jesus,  ou como o mesmo gosta de ser chamado: Bruxo ou Lord.  A Batalha da CT, @_batalhadact, surge no começo de 2016, com apenas uma caixa amplificada, dando início a uma das vertentes do movimento cultural do Hip-Hop que reúne não só membros Mc's jovens, mas também públicos de diferentes idades para apreciar a arte que anda propagando conhecimento em todos os contextos. No início das batalhas,  poucas pessoas  frequentavam e faziam acontecer o movimento. Os nomes conhecidos que se faziam presentes na praça São José no centro de Timon eram , além de Thiago de Jesus e das crianças do bairro, os  jovens: Arauto, Edinaldo, Ricardo, Bruno, Ronaldo, THG, Marquinho e Raifran, atualmente o número de pessoas que somam ao movimento aumentou e cada um segue sua vida escrevendo suas poesias e suas músicas.
Tiago Jesus: primeiro organizador da batalha da CT
Arquivo: Tiago Jesus

Até o momento,  não se ouvia falar de mulheres no movimento em Timon, não é mesmo? Então, Thais, vulgo Bolladona, mulher, LGBT e artesã, se tornou organizadora da Batalha da CT, afastando-se  depois devido a problemas pessoais. Em 2016, Preta Pri se tornaria a primeira mulher a participar da Batalha da CT e vencer, apesar de todo o machismo que sofreu, iniciando uma revolução no movimento Hip Hop de Timon. Em 2018  Marysol, mulher, preta, escritora, começou a frequentar a Batalha da CT, local que majoritariamente é masculino. Ela chegava no meio das batalhas recitando suas poesias marginais mesmo com as pernas tremendo de nervosismo, enfrentando as ondas de ocupar um local até então unicamente "masculino". Hoje em dia,  Marysol é uma das organizadoras da Batalha e já trouxe muitas melhoras para as reuniões culturais, implantando os Slams de Poesia e as Batalhas do Conhecimento(que foram iniciadas pelo brasileiro MC Marechal), que podem e devem ser compartilhadas e praticadas em todos os estados brasileiros. Temos grandes nomes femininos em Timon que carregam com muita responsabilidade o Hip Hop por onde passam, um dos nomes é Carmem Kemoly, mulher, preta, estudante e artista que lançou em 2019 a faixa Camburão, que faz parte do seu EP Karma, lançado em Timon no ano de 2019, no espaço Terreirus Club. Ela também escreveu e dirigiu o curta metragem que conta a história de Esperança Garcia, a primeira advogada  negra, brasileira e piauiense. Recentemente,   Jaísa Caldas lançou um Single com o nome "Homens, raça sem classe" Jaísa é mulher, preta e Timonense. Ouçam esse som! Mas agora voltando, em 2017, num show de Rap em Teresina, na fila da Bilheteria,  Douglas Moraes Ribeiro conheceu Humberto e Pedro Henrique. Dessa amizade surgiu a gravadora ABIFFRECORDS( @abiffrecords)  que se localiza no Parque Alvorada. Foi uma atitude de coragem, de jovens que apostam na arte seus mantimentos de alma e refúgio espiritual. Em junho de 2019, Douglas usou um dinheiro que já havia guardado há um tempo e comprou alguns equipamentos de captação de som e essas coisas básicas para um estúdio, coincidentemente ou não, em junho do mesmo ano conheceu a Batalha da CT, se envolveu com as pessoas e em menos de seis meses produziu trabalhos belíssimos de muitos Mc's da cidade, como o Sujeito Cria, Bruxo do Norte, Cruz, Sujeito Home, Raifran, Humberto, Pedro, entre outras personalidades, oportunidade muito rara, pois antes os timonenses tinham que se deslocar para Teresina e pagar as gravações das músicas em outros estúdios.
A ABIFFRECORDS chegou para inovar com projetos sociais e empreendedores na cidade de Timon, dando oportunidade também para a juventude periférica expressar suas vivências, artes e dores por meio da música, inicialmente as gravações eram de graça e hoje em dia é feita por um preço bem  acessível. E isso é o Hip Hop em ação. Posteriormente, Douglas e Marysol encabeçaram a ideia do Projeto Fazendo (P)arte, que conta com a ajuda do organizador primário da Batalha da CT, Thiago de Jesus, vulgo Lord, que visa prevenir a juventude do mundo da criminalidade por meio de diversas manifestações artísticas e da cultura Hip Hop. Em breve saberão mais sobre o projeto.
Vale ressaltar que todas as Batalhas resistem sem um apoio mínimo da prefeitura de Timon!!!

                                                     Victor Cavalcante: primeiro organizador da batalha do HC
                                                                              Arquivo: Victor Cavalcante

Em 3 de outubro de 2018  surgiu na cidade a Batalha do HC, que se localiza na praça do Higino Cunha, na praça da UEMA/Timon. Iniciada pelo @vittu_cavalcante e atualmente organizada por Victor, Aragão e Mandacaru, essa Batalha foi palco de outro evento revolucionário na trajetória do Hip Hop timonense, quando uma adolescente chegou e batalhou! Isso mesmo! Temos a segunda MC de Freestyle de Timon. Gabriela tem quinze anos e  sempre sonhou em ser MC , ela relata que hoje vive um sonho,pois desde criança escuta rap e escreve suas poesias, Gabriela nos faz ter esperança. Mulher além de força, é afeto. E é de afeto que o mundo precisa para remediar toda essa violência. E o que tudo isso tem a ver com o título da matéria? Antes da minha resposta, responda para você mesmx. O sentido é em frente. Não teria acontecido nada disso se não fosse a união. E não há união sem afeto. Não há afeto sem diálogo. Não há diálogo sem compromisso. Assim como não há Hip Hop sem compromisso.O movimento é composto por cada pessoa que queria somar, se um cair, o outro tem que ajudar a levantar. O papo é esse. Um salve para todxs e vai desculpando se esqueci de citar o nome de alguém.
Gabriela Caroline, 15 anos, MC
Arquivo: Gabriela Caroline




 Sobre a autora

Marysol da Silva Costa( @humsol_ ), 18 anos, estudante, escritora com livro publicado, timonense, artista independente, jovem, mulher, preta e antifacista.