Wanderson Carlos Lima da Silva[1]
Esse pequeno texto foi produzido
com o objetivo de relatar minhas experiências com as vivencias que venho
tendo na ONG. Centro de Folclore e Arte Popular de Caxias do Maranhão (CEFOL)
desde o ano de 2013, e ainda, serve como mais um espaço para que eu consiga
homenagear e expressar minha eterna gratidão a Antonio Nascimento Cruz,
presidente vitalício da instituição, um amigo, um pai, um MESTRE, que me
proporcionou um novo caminho para minha vida, repleto de cultura e arte. Salve
Seu Cruz, encantado no dia 24 de agosto de 2019.
Antonio Cruz em um desfile da Escola de Samba Malucos por Samba
Arquivo: CEFOL
Antonio Cruz com seu berimbau feito por mestre Bimba durante uma performance na década de 70 no México.
Arquivo pessoal
O CEFOL é uma ONG com sede em Caxias
que tem como intenção a salvaguarda da cultura popular maranhense e afro-brasileira por meio de um museu dinâmico e da
realização de oficinas e rituais de manifestações populares como: o Tambor de
Crioula, o Bumba meu Boi, a Caixa de São Sebastião e o Samba. É relevante
pontuar o que é o CEFOL e o que faz parte do seu quadro de atividades porque em
minhas vivências nessa instituição tive a possibilidade de adentrar e ser
envolvido de forma gradativa por cada manifestação em tempos diferentes.
Em primeiro momento tive a
oportunidade de participar, e isso foi possibilitado pelo convite feito por
Cayo Cruz, filho de Antonio Cruz, do desfile da escola de samba Malucos por
Samba no ano de 2013. Nessa ocasião, eu e mais um punhado de alunos da
Universidade Federal do Piauí-UFPI, que, nessa situação, tiveram em sua maioria a
primeira experiência com esse tipo de atividade, tivemos a honra de ensaiar e compor
a comissão de frente da escola, como soldados templários, guardiães de Don
Sebastião e da cultura popular do bumba meu boi, embalados pelo enredo “De Gonzaga ao bumba boi: bicho nacional por excelência” de Cayo Cruz.
Comissão de frente da Escola de Samba Malucos por samba em 2013: cavalheiros de Don Sebastião
Arquivo: CEFOL
Passados alguns meses desse
desfile, voltei, novamente com mais alguns companheiros (as) da UFPI, ao CEFOL,
já instalado em sua nova sede, em um lindo complexo de prédios e ruínas
tombados pelo IPHAN e que um dia tinha sido a primeira Estação Ferroviária de
Caxias (1895),para participar da oficina de bumba meu boi e tambor de crioula
ministrada por quatro artistas populares da cidade de São Luís. Foram três dias
de oficina que nos apresentaram as técnicas e simbologias do sotaque de bumba
meu boi de zabumba e,em especial, do tambor de crioula e suas variações
rítmicas e poéticas das cidades de Caxias e São Luís. Esses três dias de
aprendizado culminaram com o ritual de batizado do grupo de bumba meu boi Brilho da Princesa e de uma apresentação do mesmo grupo na Vila Junina, arraial
da Prefeitura da Cidade. O ritual de batizado foi agraciado também com uma roda
de Tambor de Crioula com os ministrantes e os alunos da oficina, que serviu para
por em prática os ensinamentos e também como um momento de comunhão.
Oficina de Tambor de Crioula para estudantes da UFPI em 2013 no CEFOL
Arquivo: Ricardo Ximenes
Batizado do bumba boi brilho da princesa em 2013
Arquivo: Ricardo Ximenes
Essa oficina rendeu bons frutos,
que se consolidou com o primeiro ensaio de tambor de crioula realizado nas
dependências da UFPI, onde se encontravam alguns participantes da oficina e
outras pessoas que se interessaram pela atividade. Esse ensaio que aconteceu no
dia 24 de outubro de 2013 e deu origem ao grupo de tambor de crioula
Mangacrioula, primeiro grupo de tambor de crioula da cidade de Teresina, legado
do CEFOL que se expandiu realizando atividades como oficinas, ensaios e rituais
de batizado e aniversário em varias cidades do Piauí e do Maranhão.
Minha participação efetiva nas
atividades do grupo Mangacrioula, que extrapola a prática do tambor de crioula
e se estende para performances de bumba meu boi, samba e tambor de mina, fez com
que eu me aprofundasse e me especializasse cada vez mais nos elementos
simbólicos e práticos da cultura popular, que teve como um dos resultados o
feitio do trabalho de monografia para o termino do curso de Ciências Sociais da
UFPI, intitulada de “Eu me criei na palha do coco, deixando o vento me
balançar: a identidade do Grupo Mangacrioula de Teresina”. Essa minha vontade,
que também era partilhada por meus (minhas) companheiros (as) de grupo, de
aprender cada vez mais sobre essas manifestações nos deu a oportunidade voltar
para o CEFOL, não mais como dissentes das oficinas, mas como ministrantes.
Apresentação do grupo Mangacrioula em Teresina (PI)
Arquivo: Mangacrioula
Palestra e apresentação do grupo Mangacrioula na Universidade Estadual do Piauí (UESPI) em 2019
Arquivo: Mangacrioula
Arquivo: Mangacrioula
Foram diversas oficinas lecionadas
pelos integrantes do Grupo Mangacrioula, em parceria com os membros do CEFOL,
em especial Antônio Cruz. Essa relação de amizade, cumplicidade e
determinação em ver os conhecimentos da cultura se expandir para o maior número
de pessoas possíveis não parou ai. Seu Cruz, ao perceber meu interesse e
disposição para contribuir, começou a me inserir cada vez mais no planejamento
e na organização de outras atividades da entidade, daí em diante, trabalhei também na construção de projetos, na
organização do calendário da instituição, dos instrumentos, dos participantes
e dos rituais religiosos.
Uma atividade que realizei com
Antonio Cruz e Joelma Bezerra foi referente ao dia do Folclore do ano de 2017.
Fui convidado para palestrar nesse evento, não somente devido à quantidade de
trabalhos que tinha realizado na instituição, mas também por dedicar boa parte
da minha vida acadêmica, tanto na graduação quanto no mestrado em Antropologia
da UFPI, ao estudo das manifestações populares tais como Tambor de Crioula,
Bumba meu Boi, Tambor de Mina e Capoeira. Seu Cruz me deixou muito a vontade
para organizar didaticamente o andamento das atividades, que se prolongou durante
todo o dia, sendo a parte da manhã destinada a crianças de uma escola de ensino
fundamental I, que fica próxima à sede do CEFOL, e a parte da tarde para alunos
do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA.
Nessa atividade senti que meus
trabalhos acadêmicos voltados para o estudo da cultura popular e minha
predisposição à organização das atividades dessa natureza tinham sido bem
recebidas e incentivadas por Seu Cruz. Mas o auge de minha alegria foi quando,
Seu Cruz e Cayo Cruz, me solicitaram a elaboração do samba enredo da escola de samba Malucos por Samba. Eu já havia participado da escola em dois carnavais
como integrante da comissão de frente e essa nova empreitada foi um dos maiores
desafios da minha vida. Nesse ano
escrevi o samba enredo e fui o interprete da escola, o que foi uma grande
experiência e marcou meu crescimento
como artista.
Programação do dia do Folclore em 2017 no CEFOL
Arquivo: Joelma Bezerra
Programação do dia do Folclore em 2017 no CEFOL
Arquivo: Joelma Bezerra
Wanderson Carlos em uma oficina de tambor de crioula no quilombo Jenipapo, em Caxias (MA)
Arquivo: Mangacrioula
Minha evolução gradativa como artista,
que desenvolvi a partir dessas experiências no e com o CEFOL, me proporcionou participar
e organizar inúmeros projetos culturais de várias naturezas. Posso listar, por
exemplo, a construção e distribuição, no ano de 2016, de um Zine composto de
poesias, denominado de Sócio Poética,
feito em parceria com o Cientista Social, poeta e coreiro do grupo Mangacrioula,
Vinicius Viana. Também tive a possiblidade de contribuir como ministrante do
Mine Curso “Reflexões antropológicas sobre aperformance dos rituais de Capoeira Angola
e Tambor de Crioula” realizado dentro do
Projeto de Extensão “Rituais afro-brasileiros: Corpo, música e religiosidade na
Capoeira Angola e no Tambor de Crioula” coordenado por Celso de Brito, professor doutor do Programa de Pós-graduação em antropologia da UFPI, que priorizava o ensino das
simbologias e técnicas performáticas do tambor de crioula.
Tive a honra de cantar, no ano de
2015, no ritual de aniversario do grupo Mangacrioula, que aconteceu na Praça do
Ininga em Teresina, uma música junto com o grupo de bumba meu boi Riso da Mocidade,
da cidade de Timon. Participei ainda, como percussionista, de shows de diversas
bandas, como da banda teresinense de Blues,Br 316, dos projetos musicais de Cayo
Cruz: Visagem e Calango Rei. Integrei em varias ocasiões rituais de Tambor de
Mina coordenados por Pai Heraldo de Lissá, do Terreiro de Mina Whebe Mina
Toy Vodun Lissá. E o que acho bem relevante, ministrei oficinas e mini cursos de
percussão em parceria com várias instituições, privadas e públicas, como o
SESC-PI, a UEMA, o coletivo Ocupart, a UFPI de dentre muitas outras, durante
todo esse processo de construção artística de minha pessoa. Toquei junto com o
Grupo Mangacrioula, no festival de Inverno da Cidade de Pedro II- PI, no Salve
Rainha e em muitos outros festivais de porte regional, nacional e internacional.
Mangacrioula e CEFOL após palestra e oficina na escola Débora Pereira no ano de 2017 em Caxias (MA).
Arquivo: CEFOL
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Salve a cultura popular! Salve o
CEFOL, Salve Seu Cruz.
[1] Cientista Social e Mestrando em
Antropologia pela Universidade Federal do Piaui (UFPI). Brincante de Bumba meu Boi, coreiro de tambor de
crioula, artista popular.
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